É duro admitir, mas um gosto
amargo sempre fica à boca diante da perda de algo ou de alguém. Mas, como saber
o que é perder, o que é ganhar? É preciso avaliar, sem paixão os
acontecimentos, os riscos, os danos causados no fluxo da vida.
Fiquei pensando nisto entre
ontem e hoje cedo e processando as informações diante da derrota do Santos
Futebol Clube, o glorioso alvinegro praiano (reforce-se), ao poderoso
Barcelona, na final do Mundial de Clubes da FIFA, em Yokoyama, Japão, neste
final de dezembro.
Pois bem, passadas as
primeiras horas, trocadas algumas palavras com amigos ou silenciadas outras
(ontem, ao dormir, ouvi de minha mulher a se referir a meu filho e meu cunhado
– torcedores amantes apaixonados pelo Peixe: os santistas nem se falaram hoje –
é possível refletir sobre as vitórias e as derrotas.
Numa mensagem eletrônica,
meu cunhado Irair lembrou-me a frase contida numa canção de Belchior: o passado é
uma roupa que não nos serve mais. Talvez
ainda sirva como lição a ser aprendida, e, se necessário usá-la, reformá-la,
afinal, reformas também ajudam a construir, aproveitar, reciclar, reaproveitar,
reutilizar, com novos olhos.
No Facebook, por exemplo, as
coisas já rolaram (e é natural que as pessoas se coloquem, curtam, cutuquem os
amigos – adversários apenas nos campos – e, cá entre nós, é um momento de
delírio ver o time alheio se arrastando e contando as horas que o jogo acabe
quando se está perdendo (e perdendo feio), não apenas por um ou dois gols.
Acontece. Na vida, tudo acontece. Amigos, amigos, negócios a parte, já diria
Neymar a Dani Alves, o baiano mais Catalão que o país já gerou.
No passado, o grande
presidente americano John F. Kennedy lembrava: “A vitória tem mais de uma
centena de pais - a derrota, por outro lado, essa, é órfã." Por isso, aos
amigos, ora desolados pela derrota, curtindo (ou não) os rojões da nação
hispânica que se instalou no país para saudar a vitória coletiva do Barça e,
junto a ela a frustração de não ser o seu time (ganhador de Libertadores ou não
ou ganhador do Mundial de Clubes) a estar ali, em solo japonês, o tempo de
viver a orfandade da página que se virou ontem e partir para 2012, com o
ingresso ao novo tempo, ao novo show e à possibilidade de voltar à cena, com
coragem, com garra, com leveza e aprendizados novos.
E, falando em zoeira, este
texto só foi possível porque minha Secretária do Lar, hoje, após o café matinal
e ela se colocar a postos para a brava segunda-feira que antecede o Natal ter
chegado sorrateiramente quando eu estava consultando meus emails, me disse: - e
aí, Sr. Elísio, gostou da aula que o Barça deu ontem no seu time?
Pensei na resposta. Isso era
inevitável, pois, como ela é integrante da maior torcida do Brasil, a fiel,
precisava caprichar no placar para revertê-lo e emendei:
- Gostei muito, Ana. Uma boa
aula é sempre importante e espero que isso sirva de lição, inclusive, a seu
time para quando, um dia, após passar por todas as dificuldades de ser Campeão
da Libertadores, possa, no Japão ou onde for não ser um aluno que se submeta a
uma lição tão grande como a que o Santos ontem aprendeu!
Mas falando em lição,
reporto-me aos comentários do grande Noriega junto do Milton Leite, dupla
imbatível nas transmissões, quando o primeiro disse que o Santos respeitou
demais e temeu o Barça e, como tal, extirpou do campo sua alegria de jogar,
pelo menos. Com efeito, temeu, respeitou, temeu... Fica, também, como lição uma
frase do filme Vem dançar comigo, quando a experiente dançarina recomendou à
sobrinha para não temer os desafios do concurso de danças e arrematou: viver
com medo é viver pela metade. Que se viva, integralmente, sempre!
E, para terminar o texto
motivado pela fala de Ana, a doce empregada, trago Saramago para fazer lembrar
que a história se constroi, a vida segue seu fluxo, o Sol, na terra em que ele
nasça ou não, haverá de brilhar outro dia e pensar, sempre na importância de
todas as aulas, não só na aula magna do Barcelona, que "O que as vitórias
têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também
não são definitivas." - José Saramago.
19.12.2011