sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Crônica da saudade


De repente, em meio ao turbilhão de recordações, a gente se dá conta de que, ao envelhecer, segundo dizem, a lembrança de fatos e coisas do passado torna-se mais viva e mais presente naquilo que resta de nossos dias.
E, ao recordar, lembro a canção que vem à mente e desnuda a realidade em versos: "um dia a mais, quem sabe, pode ser um dia a menos". O bom de envelhecer é poder participar de eventos familiares - em que se juntam diferentes gerações - como nesses primeiros dias de ócio de ano novo, e celebrar aniversários, encontros, despedidas, numa espécie de resgate da vida vivida. E conversar, apenas.
Aí se esconde um segredo bom da vida: conversar e, às vezes, só ouvir o que se conversa, a que nomeio como crônica de saudade. Conversa que atravessa um dos maiores temas do momento, a saber, as astúcias de Flora – personagem de Patrícia Pillar, em A Favorita[1] - expressas em seu desejo de felicidade clandestinamente conquistada, e, num átimo, tornamo-nos críticos em telenovela.
E todo o falar não para aí: da TV ao cinema, deste ao Rádio, e, no ar – pulsante e conectado nas tramas – programas-lembrança. A sessão, por instantes, parece acabar. Um chiado antigo anuncia que a música se apresenta: é a volta do Long Player e da vitrola, ou, quando muito, da pequena e saudosa sonata a girá-lo e a cantar a vida.
A canção faz retomar a seresta, a brincadeira-dançante e a carta, a grande ausente, silenciada e trocada pelos e-mails. Numa espécie de balanço de vida, a constatação de que se vivem tempos frios e descartáveis, consolam-nos os versos restantes, “Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou com um carta na mão, ante surpresa tão rude, nem sei como pude chegar ao portão...” para, talvez, compor outras recordações.
06.02.2015

[1] A Favorita é uma telenovela brasileira produzida e exibida pela Rede Globo no horário das 21 horas, entre 2 de junho de 2008 e 16 de janeiro de 2009. Wikipédia.

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