De
repente, em meio ao turbilhão de recordações, a gente se dá conta de que, ao
envelhecer, segundo dizem, a lembrança de fatos e coisas do passado torna-se
mais viva e mais presente naquilo que resta de nossos dias.
E,
ao recordar, lembro a canção que vem à mente e desnuda a realidade em versos: "um
dia a mais, quem sabe, pode ser um dia a menos". O bom de envelhecer é
poder participar de eventos familiares - em que se juntam diferentes gerações -
como nesses primeiros dias de ócio de ano novo, e celebrar aniversários,
encontros, despedidas, numa espécie de resgate da vida vivida. E conversar,
apenas.
Aí
se esconde um segredo bom da vida: conversar e, às vezes, só ouvir o que se
conversa, a que nomeio como crônica de saudade. Conversa que atravessa um dos
maiores temas do momento, a saber, as astúcias de Flora – personagem de
Patrícia Pillar, em A Favorita[1]
- expressas em seu desejo de felicidade clandestinamente conquistada, e, num
átimo, tornamo-nos críticos em telenovela.
E
todo o falar não para aí: da TV ao cinema, deste ao Rádio, e, no ar – pulsante
e conectado nas tramas – programas-lembrança. A sessão, por instantes, parece
acabar. Um chiado antigo anuncia que a música se apresenta: é a volta do Long
Player e da vitrola, ou, quando muito, da pequena e saudosa sonata a girá-lo e
a cantar a vida.
A
canção faz retomar a seresta, a brincadeira-dançante e a carta, a grande
ausente, silenciada e trocada pelos e-mails. Numa espécie de balanço de vida, a
constatação de que se vivem tempos frios e descartáveis, consolam-nos os versos
restantes, “Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou com um
carta na mão, ante surpresa tão rude, nem sei como pude chegar ao portão...” para, talvez,
compor outras recordações.
06.02.2015
[1]
A Favorita é uma telenovela brasileira produzida e exibida pela Rede Globo no horário das 21 horas, entre 2 de junho de 2008 e 16 de janeiro de 2009. Wikipédia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário