sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Cântico de Liberdade


Transporto-me ao ano de 2004. Um bom momento a recordar. Compus o júri do I Concurso Reescrevendo o futuro: cidadania hoje para viver melhor o futuro, na etapa regional, desenvolvido pela Secretaria de Administração Penitenciária paulista, envolvendo mulheres presas. O evento, por seus objetivos, teve repercussão internacional.
E se, viver é muito perigoso, segundo Guimarães Rosa, viver é também afinar um instrumento de dentro pra fora e de fora pra dentro, dizem os versos de Walter Franco. Foi o que presenciei nas modalidades abrangidas pelo certame: prosa, verso, estética, simpatia. Por que não afinar o instrumento, mesmo privado da liberdade?
Uma noite em que o sonho, a crença e a criação daquelas mulheres costuravam um destino diferente, ao sonhar pela liberdade ainda ausente, à época. Teciam o sonho de ser livre nas prosas e versos marcados pela saudade de um tempo livre. Com palavras soltas, expressavam a memória dos braços não abraçados, dos beijos não dados, do filho distante, num eu-lírico afinado com a nostalgia e a esperança.
A beleza e a simpatia, apesar do nervosismo, da ansiedade, e muito de emoção, também encheram de futuro as candidatas. A noite do evento vestia de princesas a beleza de mulheres, prisioneiras no corpo, soltas, porém a escritas e passos que lhe permitiam desenho um futuro melhor.
Ações educativas exigem constância. Seus resultados podem não vicejar de imediato. Educação que liberta é tomar a pessoa como centro, fazê-la afinar seu instrumento, despertar sua potencialidade.
12/05/2009

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