Há
dias me vem à memória o samba cantando por Chico Buarque sobre o final da
história de amor de Joana de Tal com um tal João. Semelhante às tragédias da
vida real, Joana quis dar cabo da vida; não conseguiu. Medicada, de volta para
a casa, ela se pega sem lar, sem amor. É apenas alguém que errou na dose, errou
de João. Ninguém notou, nem morou na dor que era seu mal.
Joana,
a mulata errante, sem João, Pessoas de Tal, moradores de barracos humildes,
anônimos, vítimas de amores desfeitos, logo, sem jeito, na cena confirmam o
refrão-conclusão da música: “a dor da gente não sai no jornal”.
Como
tantos outros cidadãos, suas histórias, seus medos, suas perdas e seus danos, a
quem interessa a dor de Joana de Tal? O que fazer com a imensidão de encontros
e desencontros que assolam alguns ali, devassam tantos acolá? Assim como a
história de Joana e de João, melhor não escrever, cantá-la, apenas em versos e
acordes possíveis.
E
por que não escrever as histórias ricas de vida? Talvez porque dê trabalho, ou
pela dificuldade em lidar com elas. Podem confundir, já que são histórias não
ensinadas na escola, nem nas faculdades. Os “causos” dos barracos, das vilas,
dos engenhos, do mato, suas cores e dores, que deles se encarreguem poetas,
seresteiros e os embalem as cantigas e as rodas de samba, em noites de desabafo.
De
fato, dores de toda a gente como Joana, não têm vozes, apesar dos gritos e
gemidos; não saem, pois, no jornal. Expressam-nas os versos, como os que
compõem a música A massa: “a dor da
gente é dor de menino acanhado, menino-bezerro pisado no curral do mundo a
penar”.
08/06/2009
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